domingo, 25 de setembro de 2016

Sobre o concerto de piano solo da Japinha Hiromi Uehara no Teatro Municipal

E foi se aproximando a hora do concerto da Japa Hiromi Uehara que supostamente viria com a minha formação favorita: Trio de baixo elétrico e bateria. A decepção se deu ao adentrar o Teatro e perceber somente um piano Yamaha de cauda inteira no meio do palco e fiquei chateado quase retornando aos concertos devidamente baixados do respectivo trio, oriundo do repositório do Youtube e como já estava lá dentro...fui em frente, a japinha entrou quente e segurou por 120' algo que geralmente não se sustenta, o tal do piano solo, tem que ter muita garra, técnica e musicalidade.
Dotada de uma técnica espetacular e numa independência absurda de mão esquerda(grave e harmonia) e da veloz e técnica direita(linha melódica), seu dedo mindinho da mão direita atinge cada intervalo surpreendente, seu estilo Stride piano é feroz, interindependente e fica claro que ela bebeu na fonte de Fats Waller e Fats Domino, fora sua incrível capacidade de fazer os baixos soarem como se tivesse um baixista tocando com ela numa técnica de boogie-woogie totalmente moderna e altamente inspiradora, seu experimentalismo é algo digno de um Cecil Taylor, empregou o piano preparado ecoando a linha de John Cage, e certamente seu "ostinato" vai além da esfera pianística muito raro de se ver e ouvir.
Enfim, a japinha Hiromi Uehara, uma descoberta pelo repositório do Youtube que caiu muito bem no meu conceito estético, sem a influência do seu lado oriental a não ser na capacidade de tocar empregando até o corpo todo e num estado de concentração e alegria que há muito não vejo. 
Seu som realmente pede um trio da pesada por sua intensa troca de diálogos e nesse caso, ele trocou altos papos consigo mesma com 88 notas,brancas, pretas, sustenidos e bemóis e dentro do piano. 
A japinha quebrou tudo., 
Dedicado ao amigo Thiago Cabral e Duda Neves

Em tempo: Ela abriu com o  tema acima e continuou quebrando tudo ao longo de duas horas.

Um comentário:

  1. Fico muito honrado pela pela dedicatória, Mauro. Na minha opinião, você conseguiu transportar o leitor para o estado de êxtase sonoro que Hiromi e seu piano te proporcionaram. A técnica dela nos chama muito a atenção, mas, talvez até mais significativo do que isso seria o fato de que ela, à sua maneira, revigora o “sopro do jazz” na música instrumental contemporânea - que tem sido sistematicamente vitimada pelo mercado no atual cenário. E ela nos deixa uma lição: não precisamos negar nossas origens; nossa história pessoal e/ou personalidade quando tocamos ou estamos fazendo aquilo que acreditamos fazer de melhor. Sim! E é necessário fazê-lo com alegria, com serenidade e com muita firmeza de que aquilo que estamos fazendo é uma extensão íntima do que acreditamos, ou, do contrário, o som nunca será suficientemente verdadeiro e capaz de romper barreiras sociais e geográficas, paradigmas históricos e dogmas institucionais, como Hiromi o faz muito bem. Bravo, meu amigo!

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