quarta-feira, 18 de maio de 2016

A PRIMEIRA RESENHA DO LIVRO POR DAVID MACHADO.

Um livro que tem início com uma citação de Carlos Malta de todas as flautas e saxes, não é um livro, é uma missa solene com diversas homilias.
Sem contar os depoimentos de Zé Eduardo Nazário do Grupo Um,Marcelo Spindola Bacha, amigo de conversas numa certa galeria Santa Eulália no bairro do Flamengo, Jovino Santos Neto, muito mais que um músico e Dany Roland artista de várias vertentes, entre outros comentários.
Memórias de um cara que gosta de Som possui uma alma imortal, o pesquisador e PhD em qualidade sonora, Mauro Wermelinger.
A missa solene que me refiro reside na seriedade com que o autor trata a música, ou melhor, o som que desde sua infância é alvo de pesquisas e análises críticas. Não é para qualquer um, tem que ser iluminado por acordes e linhas musicais que poucos entendem, só as mentes sensíveis na verdade ouvem o som. Quem bebeu literalmente na fonte de Hermeto é um missionário.
A proposta de" levar o leitor para dentro do foco, do palco e do som, como se ele lá estivesse naquele momento" é facilmente atingida com uma linguagem técnica quando necessária , sem deixar de ser acessível.
Tenho porém a petulância de afirmar que o leitor não é transportado somente para o universo sonoro. Mauro Wermelinger vai muito além deste olhar. Suas homilias discorrem por cinema, contracultura, sentimentos íntimos, literatura, memórias diversas misturadas a ficção que tenho certeza que vai convencer muitos incautos leitores. Deliciosos encontros na livraria Cultura, Lapa e itinerários de ônibus com Tom Jobim, Charles Bukowski, Frank Zappa, John Coltrane, Thelonius Monk, Jim Morrison, Elizeth Cardoso, Cartola, Janis Joplin e outros pontuam o livro com maestria sem abdicar da informação.
Sua bula medicamentosa de jazzilina é muito mais que uma brincadeira, representa a cura para ouvidos saturados.
Particularmente fui transportado para a rua do Lavradio onde tantos harinamas participei. Voltei a ter cabelos e nas companhias de Isac e Fernando, apreciávamos o trio perfeito formado pelas agulhas Shure, amplificadores Technics e caixas Lando. Também retornei subitamente a uns concertos que assisti e sequer imaginava que a usina de conhecimentos estava lá. Certamente nos cruzamos antes de visitar e conhecer pessoalmente Mauro em 2014 na Toca da Lapa.
Mesmo não citado, vi meu pai, co - autor de vários projetos idealizados na Funarte, como Circo Voador e som nos teatros João Caetano, Delfin, Carlos Gomes e a própria Sala Funarte, por exemplo.
Fui a Búzios visitar meu amigo Luís Antônio pela simples presença de seu "pai" , Radamés Gnattalli. Lembrei-me de minha vizinha Nara Leão ao ler as palavras mágicas, Bossa Nova. Um outro retorno, desta vez aos tempos de TV Educativa com o mestre Tárik de Souza com quem trabalhei nos Programas Caderno Dois e Panorama Cultural.
Por último, já li bastante sobre o advento e consequências da internet, mas nada se compara a visão de Wermelinger no que diz respeito ao nivelamento das informações proporcionado por redes sociais e o www.
Uma última ousadia ou petulância de minha parte, diz o autor que a internet é a libertação das informações e onde os índios superam o poder dos caciques. Certo, mas no olho do furacão, permanece a visão de um cacique que não foi tirado de seu posto, o ativista contracultural e perito em diversas áreas, Mauro Wermelinger.
Parabenizo a Editora Multifoco pela iniciativa, assim como a também editora Márcia Vilas Boas por acreditar na proposta de disseminar a cultura em tempos tão difíceis, em que as artes caem na mesmice ou pior, despenca na deterioração.
É isso ai, ainda vou aprender muito com o som das letras desse livro e que venham mais!
David Machado, jornalista. Registro profissional 17423 livro 97 fls73 Proc 23194/89.

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